quinta-feira, 1 de novembro de 2012


O JOVEM FRANK

Às vezes eu me pergunto
que diabo de papel
estou fazendo aqui.

Não pedi para nascer,
não escolhi o meu nome,
e tenho um corpo montado
com pedaços de avós,
fatias de pai
e amostras de mãe.

Nas reuniões de família
o esporte predileto
é dissecar Frankenstein:

"Os olhos são do Arruda..."
"Os pés lembram os Botelho..."
"Tem as mãos do velho Braga!"
"...e o nariz é dos Fonseca!".

Certamente o resultado
de um tal esquartejamento não pode ser coisa boa,
pois tantos retalhos colados
não inteiram uma pessoa.

Sendo assim...eu não sou eu,
sou outra coisa qualquer:
Um personagem perfeito
para filme de terror.

Um andróide, um mutante,
um bicho extraterrestre,
um berro de puro pavor!

Graças a Deus, meu espelho
não é daqueles que falam...
Diante dele, com cuidado,
posso até reconhecer
este rosto que é só meu
e sorrir aliviado.

Cheio de cravos e espinhas,
pode não ser um modelo
de perfeição ou beleza,
mas com certeza é alguém
e esse alguém...sou eu, sou eu!

(Carlos Queiroz Telles, Sementes de Sol)